Ao poeta Carlos Ayres Britto
O menino paralítico
Me olha do portão.
Observa as minhas brincadeiras
Numa espécie de inveja
Das pernas que não tem.
Sonha, pensando
Na partida de futebol
Em que seria o herói;
No mar onde,capitão,
navegaria;
No baile em que dançaria
Com a garota mais cobiçada.
De uma certa forma, porém,
Sou eu quem o inveja:
O menino paralítico
Não precisa cumprir
A obrigação de ser alegre
Ou vencedor;
Não precisa ser o melhor aluno
Ou demonstrar qualquer excelência
Além da excelência de ser
O que é.
O menino paralítico
Diferentemente de mim,
Pode ser ele mesmo,
Pode frequentar a loucura
Sem ter que dar satisfação
A quem quer que seja.
Em verdade,constato:
Eu é que sou o defeituoso,
O que finge ser
O incompleto.
Felizes os que podem ser,
Livremente,
Infelizes,
Sem a monótona obrigação
Da alegria;
Sem a ambígua e falsa
Imposição de ser feliz.
SOBRE O AUTOR
Antônio José de Oliveira Botelho (Antônio Botelho), nasceu no Recife?PE. Por intermédio do poeta, crítico e professor Ângelo Monteiro, no final dos anos 80,ainda muito jovem, publicou diversos poemas no Diário de Pernambuco e no Jornal do Comércio, nas colunas dirigidas por Marcus Prado e Marco Polo, respectivamente. Em 1994, com o livro O Terceiro Tigre, foi o vencedor do Concurso Mauro Mota de poesia, promovido pelo Governo do Estado de Pernambuco, obra que só veio a ser publicada em 2004, com o título A Palavra Nome. Neste segundo livro, O Círculo das Sombras, Antônio Botelho dá continuidade a um processo criativo visceral e extremamente consciente, que aborda temas universais através de poemas construídos com a artesania e a profundidade dos grandes mestres.
Apoio
Compainha Editora de Pernambuco