MOSAICO
Na loucura de um deus me recomeço.
No fragmento de um deus me recomponho.
Na ambição de um deus me estilhaço.
Na vertigem de mim sou sempre o mesmo.
Na voragem do ser procuro o outro.
No corpo de um eu sou sempre raro.
Cansado de ser um sou sempre vários.
Perdido em meu amor fui circunflexo.
Demitido de mim fiquei percalço.
Na ternura de um deus me sublevo:
Na solidão de morrer me decomponho
Nas vagas desse mar que subverto.
- Antônio Botelho
Do livro: O Círculo das Sombras
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